Porque me insistes olhar na nudez de mim perante estuque reflectida? Porque me tentas em dissimuladas visões erguer num plano onde silhueta de mim olha a rua e se escapa no horizonte? Quando será que te fartaste de me olhar? Foi depois daquela noite que o sexo não foi bom e tu não atingiste o orgasmo e eu não atingi o clímax e tu sentiste a tua virilidade apagada, enclausurada na idade que se aproxima, mas ainda é apenas miragem? Será que perdeste a adrenalina no nosso leito de amantes ou perdeste a tesão nas texturas da parede que te apoiavas, enquanto dentro de mim penetravas fundo, esquecendo-me, para assim sentir o frio do estuque que te excitava e fazia-te perder no emaranhado lúgubre da reflexão da paisagem pintada na segunda pele da parede de nossa sala? Perdeste-te nela e não em mim. A minha pele perdeu o interesse, enquanto esmagada sobre aquela que amavas e sob o teu corpo, que já não ardia por mim, mas sim por ela. Foi a fixação artística ou o fetish bizarro que te arrancaram de mim, para tomares aquela que achavas embelezar mais a casa para onde fugias... Horas passadas na poltrona e no chão a olha-la, como se eu tivesse perdido a vida e ela ganho uma que não lhe pertence, pela ausência de biologia e fisiologia, que não lhe eram inatas, não lhe eram inerentes, mas para ela as criaste, roubando-mas. E já não somos mais amantes, mas somos amantes. Como se eu escondesse a tua tara e tu escondesses a minha frustração, e estamos nus, depois de te ter sentido e tu me teres envolvido, depois de eu ter gemido e tu te vires. Estamos aqui, imóveis, eu não tenho para onde ir e tu para onde vais não a tens a ela, somos triângulo num amor que não existe, mas existe. Uma fuga evadida de uma paixão por outra que é mais bela que eu. Sempre primaste pela beleza, por isso me procuraste, entre o olhar brilhante e o cabelo a cobrir-me as costas, sempre te gabaste disso ao teus amigos, da flor virgem e esguia que tinhas sobre a mesa de jantar, encostada à parede branca, que hoje não é branca e já não é encosto, sou eu essa parede hoje e hoje é ela tua amante, a que veneras, salivante sentado à mesa de jantar, como se jantasses com ela e não comigo, esvaziaste-nos! Amaste aquilo que te ilumina o mundo. E eu não mais o ilumino para ti!
2 comments:
Porque me insistes olhar na nudez de mim perante estuque reflectida? Porque me tentas em dissimuladas visões erguer num plano onde silhueta de mim olha a rua e se escapa no horizonte? Quando será que te fartaste de me olhar? Foi depois daquela noite que o sexo não foi bom e tu não atingiste o orgasmo e eu não atingi o clímax e tu sentiste a tua virilidade apagada, enclausurada na idade que se aproxima, mas ainda é apenas miragem? Será que perdeste a adrenalina no nosso leito de amantes ou perdeste a tesão nas texturas da parede que te apoiavas, enquanto dentro de mim penetravas fundo, esquecendo-me, para assim sentir o frio do estuque que te excitava e fazia-te perder no emaranhado lúgubre da reflexão da paisagem pintada na segunda pele da parede de nossa sala? Perdeste-te nela e não em mim. A minha pele perdeu o interesse, enquanto esmagada sobre aquela que amavas e sob o teu corpo, que já não ardia por mim, mas sim por ela. Foi a fixação artística ou o fetish bizarro que te arrancaram de mim, para tomares aquela que achavas embelezar mais a casa para onde fugias... Horas passadas na poltrona e no chão a olha-la, como se eu tivesse perdido a vida e ela ganho uma que não lhe pertence, pela ausência de biologia e fisiologia, que não lhe eram inatas, não lhe eram inerentes, mas para ela as criaste, roubando-mas. E já não somos mais amantes, mas somos amantes. Como se eu escondesse a tua tara e tu escondesses a minha frustração, e estamos nus, depois de te ter sentido e tu me teres envolvido, depois de eu ter gemido e tu te vires. Estamos aqui, imóveis, eu não tenho para onde ir e tu para onde vais não a tens a ela, somos triângulo num amor que não existe, mas existe. Uma fuga evadida de uma paixão por outra que é mais bela que eu. Sempre primaste pela beleza, por isso me procuraste, entre o olhar brilhante e o cabelo a cobrir-me as costas, sempre te gabaste disso ao teus amigos, da flor virgem e esguia que tinhas sobre a mesa de jantar, encostada à parede branca, que hoje não é branca e já não é encosto, sou eu essa parede hoje e hoje é ela tua amante, a que veneras, salivante sentado à mesa de jantar, como se jantasses com ela e não comigo, esvaziaste-nos! Amaste aquilo que te ilumina o mundo. E eu não mais o ilumino para ti!
a dor; lentamente aflora a minha pele. Numa parede, o corpo.
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