Vejo aqui, tudo aquilo que me é belo e me remete para a dor que tenho em mim inerente à vida, ao viver, porque me custa viver, num quadro melodramatico constantementemente pincelado a preto e branco. Feito de despedidas e reencontros rápidos, no fundo estou e estarei sempre só, na minha rotina, na minha experimentação da vida, porque só estou acompanhada raramente, e estando, nem sempre me sinto dessa forma, como se a multidão, as amizades e os amores se consumissem neles próprios e em mim, sem que estejam deveras presentes, porque nunca estou com quem amo, porque estou sem realmente estar, como se estivesse eternamente destinada à imagem de postais em forma de recordação, sem que viva o presente como o quero ter e sentir. Só estou bem onde não estou, onde estou nada é como quero, não tenho quem desejo e nunca me apaixono por quem por mim se apaixona, nunca amo quem me ama, nunca me dedico a quem a mim se quer dedicar. Viver torna-se rotineiro ciclo de desilusões e desgostos, refugio-me ao fantasiar, levo-me até mundos que não são meus e a vidas que me são inatingíveis. No entanto, sorrio. É como se nada fosse e apenas lembrasse o meu sentir às vezes, quando olho ao meu redor e coloco juntamente a meu corpo nu todos os fragmentos de mim e me lembro que na continuidade da vida, ela apenas me diz uma coisa, e o caos é sempre o mesmo, a tristeza é sempre a mesma e no entanto estou feliz, sem que o esteja, como se me iludisse na minha própria mentira, sem que minta aos restantes, porque nela deveras creio. Sem que creia em nada, nem num crer transcendente. Por vezes, acho que acredito no amor, por vezes penso que não me pode apenas restar isto, esta dor, este vazio, por vezes penso que mereço ser feliz. Nunca espero esta felicidade, mas ela também nunca vem, e vivo amargurada, sempre de lábios sorridentes, com a aparência que me faz ser eu, com a excentricidade que digo fazer parte de mim, e penso que posso criar, que posso ser só eu, sem que haja este vazio. E as horas passam e o meu quarto continua caotico, as paredes cansadas de ouvir o meu choro, preenchidas daquelas imagens que desconheço e daqueles textos que insisto em ler, para assim massacrar-me na imensidão da minha realidade, nas palavras de outro, por vezes nas minhas... Talvez não seja nada ou eu é que não sou nada, sem que possa querer ser o que quer que seja, mas tenho em mim como constante o sonho, todos aqueles que existem no mundo, é de mim, da minha natureza desde menina tê-los, como quem colecciona recortes de jornal, armazenados algures numa das caixas de meu quarto, sem que nunca os procure, porque em mim existirá sempre a consciência que na minha vida perderam-se os factos, existindo apenas a subjectividade que o meu eu extrovertido me traz, uma alegria própria da inconsciência que insisto em reter, sentindo deveras tudo isto, como esta imagem, um ponto algures no mundo, abandonado e esquecido, talvez amado por vezes, por aqueles amam a sua estética e esquecem que ali existiu uma vida, que os estilhaços de vidro, são pedaços da sua alma, que nada ali está e é por acaso. Mas, eles esquecem, todos se esquecem e todos o usam, num entrar e sair de aproveitar e largar. Um dia um alguém desconhecido, já conhecido, vai-se, segue pelas ervas e apaga de sua memória que ali esteve e amou tudo aquilo, esquece-lhe os pormenores e o todo, tornando tudo aquilo tão insignificante como sempre o foi.
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Vejo aqui, tudo aquilo que me é belo e me remete para a dor que tenho em mim inerente à vida, ao viver, porque me custa viver, num quadro melodramatico constantementemente pincelado a preto e branco. Feito de despedidas e reencontros rápidos, no fundo estou e estarei sempre só, na minha rotina, na minha experimentação da vida, porque só estou acompanhada raramente, e estando, nem sempre me sinto dessa forma, como se a multidão, as amizades e os amores se consumissem neles próprios e em mim, sem que estejam deveras presentes, porque nunca estou com quem amo, porque estou sem realmente estar, como se estivesse eternamente destinada à imagem de postais em forma de recordação, sem que viva o presente como o quero ter e sentir. Só estou bem onde não estou, onde estou nada é como quero, não tenho quem desejo e nunca me apaixono por quem por mim se apaixona, nunca amo quem me ama, nunca me dedico a quem a mim se quer dedicar. Viver torna-se rotineiro ciclo de desilusões e desgostos, refugio-me ao fantasiar, levo-me até mundos que não são meus e a vidas que me são inatingíveis. No entanto, sorrio. É como se nada fosse e apenas lembrasse o meu sentir às vezes, quando olho ao meu redor e coloco juntamente a meu corpo nu todos os fragmentos de mim e me lembro que na continuidade da vida, ela apenas me diz uma coisa, e o caos é sempre o mesmo, a tristeza é sempre a mesma e no entanto estou feliz, sem que o esteja, como se me iludisse na minha própria mentira, sem que minta aos restantes, porque nela deveras creio. Sem que creia em nada, nem num crer transcendente. Por vezes, acho que acredito no amor, por vezes penso que não me pode apenas restar isto, esta dor, este vazio, por vezes penso que mereço ser feliz. Nunca espero esta felicidade, mas ela também nunca vem, e vivo amargurada, sempre de lábios sorridentes, com a aparência que me faz ser eu, com a excentricidade que digo fazer parte de mim, e penso que posso criar, que posso ser só eu, sem que haja este vazio. E as horas passam e o meu quarto continua caotico, as paredes cansadas de ouvir o meu choro, preenchidas daquelas imagens que desconheço e daqueles textos que insisto em ler, para assim massacrar-me na imensidão da minha realidade, nas palavras de outro, por vezes nas minhas... Talvez não seja nada ou eu é que não sou nada, sem que possa querer ser o que quer que seja, mas tenho em mim como constante o sonho, todos aqueles que existem no mundo, é de mim, da minha natureza desde menina tê-los, como quem colecciona recortes de jornal, armazenados algures numa das caixas de meu quarto, sem que nunca os procure, porque em mim existirá sempre a consciência que na minha vida perderam-se os factos, existindo apenas a subjectividade que o meu eu extrovertido me traz, uma alegria própria da inconsciência que insisto em reter, sentindo deveras tudo isto, como esta imagem, um ponto algures no mundo, abandonado e esquecido, talvez amado por vezes, por aqueles amam a sua estética e esquecem que ali existiu uma vida, que os estilhaços de vidro, são pedaços da sua alma, que nada ali está e é por acaso. Mas, eles esquecem, todos se esquecem e todos o usam, num entrar e sair de aproveitar e largar. Um dia um alguém desconhecido, já conhecido, vai-se, segue pelas ervas e apaga de sua memória que ali esteve e amou tudo aquilo, esquece-lhe os pormenores e o todo, tornando tudo aquilo tão insignificante como sempre o foi.
"Nunca espero esta felicidade, mas ela também nunca vem..."
à espera...
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