Wednesday, December 17, 2008

palimpsesto

200081207_siria_13

Póvoa de Santa Iria, 20081207

4 comments:

Anonymous said...

Entaipaste-nos. Violado o estuque, estuprada aquela que amavas, viraste-nos preto e branco, eu deixei de sorrir e tu deixaste de brilhar os olhos a olha-la. Um dia já não existia nada e eu não tinha para onde ir, mas tu foste, sem ela e perdeste-me propositadamente no caminho de nós para o teu. Não sei se me arrependo, não me arrependo. No cinzento cimento agora de nossa casa, sinto-me completa, como se o amasse, como amaste aquela parede estucada, como se fossemos um, frios minerais estanques à porta do nada. Já não existia porta. E nós aguardava-mos a vida que não é e o calor do corpo que não vem, o arfar que já não aquece, o arfar que é brisa lenta e gelada nas pregas do nosso corpo, nas ranhuras da nossa índole inacabada e imperfeita. Todos nós incompletos na simplicidade da estrutura que nos completa e nos faz não reflectir e ser apenas, esperar na esperança que alguém pegue em nós ao colo e nos torne novamente belos, nos torne viçosa a pele e a aparência, nos enxugue a humidade deste chorar de inverno e nos torne assim utilizáveis, de faces rosadas e olhos abertos. Somos a composição de algo abandonado, trancado ao mundo para que não se nos veja o interior e apenas se desdenhe a aparência miserável da despedida de alguém que foi, mas nos está gravado no corpo e no suor, nos poros e nas linhas de nossos contornos mutáveis pelo sentir na transformação que nunca mais se apresenta, nem nos deixa apresentar!

Anonymous said...

gosto bastante da foto!

kiasma said...

"eu deixei de sorrir e tu deixaste de brilhar os olhos a olha-la. Um dia já não existia nada e eu não tinha para onde ir, mas tu foste, sem ela e perdeste-me propositadamente no caminho de nós para o teu."
Um dia, nada existirá. Nem os caminhos para nos perdermos.

Anonymous said...

"Caminante, son tus huellas"

Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
(tanto para nos perdermos como para nos encontrarmos)

António Macahdo

cida