Entaipaste-nos. Violado o estuque, estuprada aquela que amavas, viraste-nos preto e branco, eu deixei de sorrir e tu deixaste de brilhar os olhos a olha-la. Um dia já não existia nada e eu não tinha para onde ir, mas tu foste, sem ela e perdeste-me propositadamente no caminho de nós para o teu. Não sei se me arrependo, não me arrependo. No cinzento cimento agora de nossa casa, sinto-me completa, como se o amasse, como amaste aquela parede estucada, como se fossemos um, frios minerais estanques à porta do nada. Já não existia porta. E nós aguardava-mos a vida que não é e o calor do corpo que não vem, o arfar que já não aquece, o arfar que é brisa lenta e gelada nas pregas do nosso corpo, nas ranhuras da nossa índole inacabada e imperfeita. Todos nós incompletos na simplicidade da estrutura que nos completa e nos faz não reflectir e ser apenas, esperar na esperança que alguém pegue em nós ao colo e nos torne novamente belos, nos torne viçosa a pele e a aparência, nos enxugue a humidade deste chorar de inverno e nos torne assim utilizáveis, de faces rosadas e olhos abertos. Somos a composição de algo abandonado, trancado ao mundo para que não se nos veja o interior e apenas se desdenhe a aparência miserável da despedida de alguém que foi, mas nos está gravado no corpo e no suor, nos poros e nas linhas de nossos contornos mutáveis pelo sentir na transformação que nunca mais se apresenta, nem nos deixa apresentar!
"eu deixei de sorrir e tu deixaste de brilhar os olhos a olha-la. Um dia já não existia nada e eu não tinha para onde ir, mas tu foste, sem ela e perdeste-me propositadamente no caminho de nós para o teu." Um dia, nada existirá. Nem os caminhos para nos perdermos.
Caminante, son tus huellas el camino, y nada más; caminante, no hay camino, se hace camino al andar. (tanto para nos perdermos como para nos encontrarmos)
4 comments:
Entaipaste-nos. Violado o estuque, estuprada aquela que amavas, viraste-nos preto e branco, eu deixei de sorrir e tu deixaste de brilhar os olhos a olha-la. Um dia já não existia nada e eu não tinha para onde ir, mas tu foste, sem ela e perdeste-me propositadamente no caminho de nós para o teu. Não sei se me arrependo, não me arrependo. No cinzento cimento agora de nossa casa, sinto-me completa, como se o amasse, como amaste aquela parede estucada, como se fossemos um, frios minerais estanques à porta do nada. Já não existia porta. E nós aguardava-mos a vida que não é e o calor do corpo que não vem, o arfar que já não aquece, o arfar que é brisa lenta e gelada nas pregas do nosso corpo, nas ranhuras da nossa índole inacabada e imperfeita. Todos nós incompletos na simplicidade da estrutura que nos completa e nos faz não reflectir e ser apenas, esperar na esperança que alguém pegue em nós ao colo e nos torne novamente belos, nos torne viçosa a pele e a aparência, nos enxugue a humidade deste chorar de inverno e nos torne assim utilizáveis, de faces rosadas e olhos abertos. Somos a composição de algo abandonado, trancado ao mundo para que não se nos veja o interior e apenas se desdenhe a aparência miserável da despedida de alguém que foi, mas nos está gravado no corpo e no suor, nos poros e nas linhas de nossos contornos mutáveis pelo sentir na transformação que nunca mais se apresenta, nem nos deixa apresentar!
gosto bastante da foto!
"eu deixei de sorrir e tu deixaste de brilhar os olhos a olha-la. Um dia já não existia nada e eu não tinha para onde ir, mas tu foste, sem ela e perdeste-me propositadamente no caminho de nós para o teu."
Um dia, nada existirá. Nem os caminhos para nos perdermos.
"Caminante, son tus huellas"
Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
(tanto para nos perdermos como para nos encontrarmos)
António Macahdo
cida
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