Gosto de pensar, que em cada imagem que o homem faz, há as palavras desse ou doutro homem a enche-la! Gosto de olhar para este rectângulo de cinzas projectados sobre um material sensível, nesta imagem gravada pela luz e imaginar-lhe algo, que não sei se existe, mas no fim se torna certo para mim. Gosto de pensar que por debaixo daquela árvore enamorou-se alguém e além saiu de coração despedaçado, que alguém tentou e que alguém foi tentado, que dois amantes de enrolaram pelo chão, sobre suas raízes, enlaçaram os corpos desnudos e esqueceram que existia mundo e pudores, foram deles e deles só, sem que lhes firam as moralidades e os pecados, as ânsias e os preconceitos, que apenas existiram eles e nada mais, sem que haja espaço para mais do que suas pulsões concretizadas, seus actos falhados assim purificados e renascidos, neste cinza suave, que lhes reflecte os corpos e a ausência de vergonha, que os protege e idolatra assim o local de passagem, como um marco na vida destes, dos outros e de mais alguns, de nós, de todos e de nenhuns.
Augusta: as imagens são assim mesmo; planas e densas. Planas porque funcionam como uma superfície lisa, vazia à espera de conteúdos por parte do espectador, densas porque lhe fornecem a matéria, na densidade dos cinzentos, nos vestígios de luz, para que as camadas de sentido possam surgir à sua superfície.
hb: não há razões para te intimidares... isto não é um concurso. Gostava que fosse um espaço de liberdade.
O hb foi um gentleman! A propósito dos extensos textos da Augusta, eu diria algo diferente: neste espaço as palavras de luz quase sempre bastam, pelo que todas as outras se tornam excessivas.
bela fotografia, bem dava para o leilão que ando a organizar da minha amiga Dominique (lol). Só que ando zangada com ela e preciso que me ajudem a pensar lá no meu Luar. Não queres por lá passar?
Filomena: obrigado pela visita; segui o teu pedido e passei por lá (aliás vou passando). Deixei-te um comentário no post em causa (que me deu um trabalhão a encontrar :)
E agora, para ver se acaba, de vez, algo que pode não ter importãncia mas que me irritou e pode ser desagradável:
loulou, não querendo interromper ou incomodar, polémicas de carácter teórico ou crítico, como aconteceram no passado, serão sempre bem vindas. Destilar juízos de valor sobre outros comentários, de pessoas que desconheço e que ao passar por aqui acharam que tinham algo a dizer, sejam quem forem, não.
Se por acaso eu tivesse querido, achado despropositado ou se não fizesse qualquer sentido, teria apagado qualquer comentário ou teria respondido.
Ao longo da minha prática de ensino e do meu percurso como autor, tenho sempre estimulado a exploração das relações entre a imagem, sobretudo a fotográfica e a escrita. Não me interessa se são curtos ou extensos; se provocam um texto, venha ele. As imagens podem bastar a uns; a mim, não. Não acredito no silêncio reverencial e beatífico da adoração, nem no indizível da arte (apesar das dificudades que sinto face a algumas obras e do muito que de facto não é dizível). Por muito difícil que seja ou possa ser o exercício, trazer uma imagem ao domínio da palavra é aprender a pensá-la.
Dito isto, agradeço a todos os comentários que aqui resolvem deixar. E a todos os que nunca quiseram, não preciso de dizer, obviamente, que o podem fazer. Serão todos bem recebidos.
PS: se por acaso se conhecem todos e eu estou aqui a mais, ou o dizem que é para nos podermos rir juntos ou então, se não se incomodam, agradeço que resolvam o assunto lá fora; aqui em casa não. As fotografias já me dão muito em que pensar.
Kiasma, um provérbio persa que eu ignorei, "pensa em tudo o que dizes, mas não digas tudo o que pensas", leva-me a citar, na despedida, um provérbio chinês de grande sabedoria: "Numa montanha não cabem dois tigres".
10 comments:
Gosto de pensar, que em cada imagem que o homem faz, há as palavras desse ou doutro homem a enche-la! Gosto de olhar para este rectângulo de cinzas projectados sobre um material sensível, nesta imagem gravada pela luz e imaginar-lhe algo, que não sei se existe, mas no fim se torna certo para mim. Gosto de pensar que por debaixo daquela árvore enamorou-se alguém e além saiu de coração despedaçado, que alguém tentou e que alguém foi tentado, que dois amantes de enrolaram pelo chão, sobre suas raízes, enlaçaram os corpos desnudos e esqueceram que existia mundo e pudores, foram deles e deles só, sem que lhes firam as moralidades e os pecados, as ânsias e os preconceitos, que apenas existiram eles e nada mais, sem que haja espaço para mais do que suas pulsões concretizadas, seus actos falhados assim purificados e renascidos, neste cinza suave, que lhes reflecte os corpos e a ausência de vergonha, que os protege e idolatra assim o local de passagem, como um marco na vida destes, dos outros e de mais alguns, de nós, de todos e de nenhuns.
agora até fico intimidado de cá vir comentar e deixar apenas algumas palavras dada a extensão dos comentários da Augusta :)
mas..
gosto. do p/b e das linhas dos vidros.
Não desejo de forma alguma causar esse transtorno a quem quer que seja! Aliás, extensão não significa, contudo, qualidade.
Augusta:
as imagens são assim mesmo; planas e densas. Planas porque funcionam como uma superfície lisa, vazia à espera de conteúdos por parte do espectador, densas porque lhe fornecem a matéria, na densidade dos cinzentos, nos vestígios de luz, para que as camadas de sentido possam surgir à sua superfície.
hb: não há razões para te intimidares... isto não é um concurso. Gostava que fosse um espaço de liberdade.
O hb foi um gentleman! A propósito dos extensos textos da Augusta, eu diria algo diferente: neste espaço as palavras de luz quase sempre bastam, pelo que todas as outras se tornam excessivas.
ainda que não perceba bem, obrigado loulou :D
ó hb,és mesmo um gentleman!:))
bela fotografia, bem dava para o leilão que ando a organizar da minha amiga Dominique (lol). Só que ando zangada com ela e preciso que me ajudem a pensar lá no meu Luar. Não queres por lá passar?
Filomena:
obrigado pela visita; segui o teu pedido e passei por lá (aliás vou passando). Deixei-te um comentário no post em causa (que me deu um trabalhão a encontrar :)
E agora, para ver se acaba, de vez, algo que pode não ter importãncia mas que me irritou e pode ser desagradável:
loulou,
não querendo interromper ou incomodar, polémicas de carácter teórico ou crítico, como aconteceram no passado, serão sempre bem vindas. Destilar juízos de valor sobre outros comentários, de pessoas que desconheço e que ao passar por aqui acharam que tinham algo a dizer, sejam quem forem, não.
Se por acaso eu tivesse querido, achado despropositado ou se não fizesse qualquer sentido, teria apagado qualquer comentário ou teria respondido.
Ao longo da minha prática de ensino e do meu percurso como autor, tenho sempre estimulado a exploração das relações entre a imagem, sobretudo a fotográfica e a escrita. Não me interessa se são curtos ou extensos; se provocam um texto, venha ele. As imagens podem bastar a uns; a mim, não. Não acredito no silêncio reverencial e beatífico da adoração, nem no indizível da arte (apesar das dificudades que sinto face a algumas obras e do muito que de facto não é dizível). Por muito difícil que seja ou possa ser o exercício, trazer uma imagem ao domínio da palavra é aprender a pensá-la.
Dito isto, agradeço a todos os comentários que aqui resolvem deixar. E a todos os que nunca quiseram, não preciso de dizer, obviamente, que o podem fazer. Serão todos bem recebidos.
PS: se por acaso se conhecem todos e eu estou aqui a mais, ou o dizem que é para nos podermos rir juntos ou então, se não se incomodam, agradeço que resolvam o assunto lá fora; aqui em casa não. As fotografias já me dão muito em que pensar.
Assunto encerrado.
Kiasma,
um provérbio persa que eu ignorei, "pensa em tudo o que dizes, mas não digas tudo o que pensas", leva-me a citar, na despedida, um provérbio chinês de grande sabedoria:
"Numa montanha não cabem dois tigres".
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