Friday, December 19, 2008

depois

20081207_stiria_15

Póvoa de Santa Iria, 20081207

3 comments:

Anonymous said...

E se depois?! E se depois pudessemos abraçar-nos, sem que eu me sinta morta por dentro? Sem que me veja assim, paisagem inerte, desfeita e destruída pelo tempo, humedecida pelas grossas lágrimas que me caiem do céu profundo reflectido em meus olhos, sem que sinta esta dor a consumir-me a alma pérfida e imunda, o corpo usado e sujo, tocado e desgastado, sem que haja aqui pedaço ou fragmento que alguém deveras queira tomar como seu. E se depois, após mais uma tentativa de purificação pela chuva que me tentou lavar o corpo inutilmente, eu me vestisse e fosse em vez de ficar, estando a olhar todo este cenário que não me é nada, mas de certa forma se torna companheiro na viagem, tão vazio quanto eu, tão desfeito quanto eu, tão pisado quanto eu? E se depois alguém corresse para me acudir? E se depois já não existisse mais dor? E se depois eu não me entregasse a outro que não fará mais do que me trocar por algo mais interessante, após explorada a minha carne e a minha sexualidade? E se depois raiasse o sol e eu me quisesse? E se depois da agonia existisse deveras a alegria? E se depois eu subisse a um dos postes que ilumina a vida de alguém e me ousasse matar? E se depois eu sorrisse e o sofrimento fugisse? E se depois o caminho não fosse arduo e a estrada não estivesse vazia, e a minha mão não estivesse solta e minhas pernas não tremessem e meu corpo não tivesse expasmos de revolta e as paredes não estivessem nuas e a lama não me dificultasse a caminhada e a rua não me condenasse pela vida que levo e me destroí? E se depois tudo isto fosse um sonho e o tempo recuasse e eu não me tivesse entregue, nem tivesse permitido que me usassem? E se depois todos estes homens e mulheres que me levam para a cama não me tivessem violado a carne e não me tivessem estuprado a emoção e a personalidade? E se depois eu não sentisse toda esta nostalgia, todo este desejo de voltar à infância, para assim ser feliz sem sabê-lo? E se depois alguém cuidasse de mim? E se depois eu deixasse de cuidar de alguém? E se depois eu largasse as lágrimas e a vida? E se depois eu deixasse de ser caça e os meus olhos deixassem de ver uma imagem distorcida nos espelhos? E se depois alguém me pegasse pela mão e me evadisse de mim? E se depois a música continuasse a tocar e eu continuasse a dança-la nas ruas de meus pesadelos? E se depois não existissem despedidas? E se depois não existissem reencontros? E se depois eu deixasse de sentir? Seria feliz?

Anonymous said...

Gosto muito das poças de água. Parecem nuvens brancas num céu escuro. Dá um aspecto algo "simétrico" e "negativo" à coisa.

Se houvessem mais algumas nuvens negras no céu ficava perfeito.

kiasma said...

Hugo, pelo menos desde a fotografia do central park do kertesz que uma poça de água nunca é exactamente uma poça de água....
Augusta,
serias feliz? seria feliz, eu?