Thursday, August 23, 2007

... and this is one of mine

london_20040711

Londres, 20040711

a propos dos comentários (e da minha resposta) à fotografia black curtain

3 comments:

Anonymous said...

Obrigada Kiasma, pelo comentário ao meu "comentário" e por este espaço para pensar.

Primeiro pensamento:
A fotografia, qualquer uma, traduz emoções e induz emoções. A imagem que o fotógrafo viu, registou e a forma como a enquadrou, quer afectiva quer conceptualmente, insere-se num território íntimo que o observador não tem que descodificar (e não deve (?)), para a captar e lhe dar sentido no lugar para onde a transporta. Deleuze anda por aqui, nesta multiplicidade de olhares.

A minha leitura de black curtain foi apenas sensorial : incomodou-me enquanto sequência ou desfecho (que pensava ser) das duas imagens anteriores, senti-a como espaço de tensão, um unhappy end de uma história. Não lhe tendo encontrado luz em nenhum dos hemisférios (e há sempre razões subjectivas na nossa realidade para vermos as coisas de determinada forma em determinado instante), também não lhe encontrei a dinâmica que creio estar implícita no conceito de espaço de Deleuze.

Segundo pensamento (a desenvolver):
O ponto de partida é olhar para black curtain como imagem individual.

Darei notícias, se for o caso.:)

kiasma said...

Caro(a) Sontag
Ao contrário de si, confesso que não sou um conhecedor de Deleuze e por isso não arrisco afirmar que ele andará nessa multiplicidade de olhares (mas, perdoe-me a leviandade, querer-me-á parecer que a questão não está aí). Já o pouco que vou sabendo sobre fotografia leva-me a desconfiar dessa ideia de que as fotografias traduzem necessariamente emoções (a fotografia é uma prática suficientemente plural para ser isso e exactamente o seu contrário) nem sou capaz de ter um discurso com tantas certezas em relação a este problema e, a este respeito, até penso que são muito mais importantes as emoções do espectador que as do fotógrafo.
E a leitura que fez de Black Curtain é disso prova. Leu-a na sequência de uma suposta história, que criou pela proximidade entre as fotografias publicadas, numa perspectiva linear de um desfecho onde nem sequer viu aquilo que me parece mais evidente: a luz (perdoe-me mas a luz é, na maior parte das vezes, uma obsessão para alguém que faz fotografias). A razão disto até acaba por a fornecer e aí estou completamente de acordo: "há sempre razões subjectivas na nossa realidade para vermos as coisas de determinada forma em determinado instante".
Quanto à dinâmica que diz não ter encontrado, não me admira porque ela não existe. Perdoar-me-á novamente mas o pouco que sei sobre o conceito de espaço em Deleuze, apesar da dinãmica natural interna de cada uma das categorias por ele definidas, parece-me apontar mais para uma lógica de tensão entre opostos; o que aliás parece ter sido por si confirmado ao afirmar que sentiu a imagem como um "espaço de tensão". Era essa a ideia.
Em relação ao segundo pensamento, todas as imagens são individuais e todas se deixam contaminar umas pelas outras, dependendo em grande parte do contexto de produção e de recepção.
Pela minha parte, termino aqui a minha reflexão em torno desta fotografia. Outras se seguirão.
Obrigado.

Anonymous said...

Caro Kiasma,
confesso que me surpreendeu este seu comentário antes de, eventualmente, eu dar notícias sobre o meu segundo pensamento (a desenvolver por mim,o que me parece não ter entendido).
A minha reflexão sobre "Black Curtain" também termina aqui.
Aliás,talvez a reflexão sobre as fotografias deva ser feita em silêncio. Não sei,tenho muito mais dúvidas do que certezas relativamente às coisas,embora não tenha sido essa a sua leitura a partir do que escrevi.
As palavras geram demasiados equívocos que não interessa alimentar.Contudo,há alguns que não posso deixar passar em branco:
Não sou uma conhecedora de Deleuze,ao contrário do que afirma, nem pretendi parecê-lo.Foi o Kiasma, e não eu, que trouxe Deleuze para este espaço, e pareceu-me muito interessante essa abordagem, um caminho a percorrer no encalço de um novo olhar. O pouco que sei de Deleuze,leva-me a pensar nele como o filósofo das multiplicidades, e este conceito que ele introduziu para as ideias, pareceu-me fazer sentido traduzir, neste contexto, por olhares.
De fotografia gosto muito, mas também sei muito pouco.Entendo a fotografia como uma forma de escrever com a luz. As palavras (também as de luz) não são avulsas, têm por trás um significado, um pensamento, uma ausência, um sorriso, uma emoção,um arrepio, seja o que for, que despoletam reacções distintas e,consequentemente, interpretações diversas por parte de cada leitor no seu território íntimo. Dando a "emoção" um significado mais lato (admito que a palavra pode não ter sido a mais feliz), não encontro contradição quando me diz a este propósito que "a fotografia é uma prática suficientemente plural para ser isso e exactamente o seu contrário". Aliás, aos meus olhos, as suas fotografias estão carregadas e sobrecarregadas de "emoções" que me parecem desmentir as suas próprias palavras. Para mim, é essa intensidade que lhes dá um encanto singular.
Fico por aqui, com os meus pensamentos e à espera de outras fotografias suas.Obrigada pelos lugares muito belos onde muitas delas já me levaram em viagem.

SoniaG